sábado, 10 de dezembro de 2011

Sebo, café e bolo

O sebinho da 406 norte é um lugar para se ficar. Ele faz parte da minha história desde a época que cursei Letras na UnB. Quando a gente precisava encontrar livros a baixo custo, corríamos para lá. 
Hoje, além de todos aqueles livros esperando para te acolher, provocar e fazer um estrago no seu saldo bancário - confesso que tenho baixa resistência ao apelo dos livros, quando dou por mim já estou de braços cheios e carteira vazia -, o sebinho incorporou uma cafeteria ao local, aliás uma cafeteria maravilhosa, que inclui refeições deliciosas.
Ontem provei a sugestão do chef e quase pedi para ir à cozinha fazer-lhe um elogio. Tem também o fato de os garçons do Sebinho me entenderem. Quando peço um machiato com mais leite que café, eles entendem; quando peço café com leite separados, eles entendem. É incrível, não tenho que explicar e explicar, só falar e pronto. O pedido vem certinho para eu misturar meu café com leite e encontrar a cor preferida do meu estômago. Por tudo isso, lembro do Borges: "Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria".
O ambiente também é muito tranquilo. Do lado de fora, gosto das poltronas aconchegantes e numa noite como a de ontem, dá pra sentir uma brisa gostosa e refrescante, enquanto a gente pensa se café e bolo realmente combinam.
Lá dentro, ouvem-se conversas estimulantes, sobre viagens, livros, linhas de pensamento dos autores. Para um ouvinte desavisado, pode parecer um pouco pedante a forma como se expressam os grupos espalhados no salão, ou o senhor que troca idéias com a moça que atende na livraria. Há tanta certeza na interpretação das idéias dos autores. Eu me contento em deslizar para dentro do livro e conseguir um cantinho para espiar e, talvez, aprender alguma coisa, como fiz ontem com o conto do Julio Cortázar, A autoestrada do sul.
Quase entrei em pânico solidário com o engenheiro quando a realidade temporária se desfaz e os carros ganham velocidade livrando-se do engarrafamento. Aí eu pensei, como o ser humano é adaptável! Simplesmente, incrível! O que não nos mata, nos torna mais fortes (ou pelo menos nos ensina alguma coisa, mesmo a contragosto). 
Lembrei do Borges de novo: "A esperança é o mais sórdido dos sentimentos", e decidi que bolo e café não combinam, mas se você tem os dois a sua frente, adapte-se e faça uma boa refeição!

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