Parece que a chuva chegou para ficar em Brasília, pelo menos até abril. Quando as chuvas chegam nos encontram agradecidos por molhar a terra seca e trazer um pouco de umidade ao clima desértico. Mas essa gratidão dura pouco. A gente se fixa nos transtornos - trânsito lento, asfalto que parece sabão, tesourinhas inundadas, frio constante, cabelo em estado de calamidade pública. Enfim, uma enxurrada de mudanças que consideramos desagradáveis.
Acho que a chuva, como a lua, também influencia o comportamento humano. As pessoas ficam mais quietas, soturnas, não tão amistosas como em uma manhã de sol. O papo é curto, a tolerância é zero, os humores são amargos. As notícias também parecem mais carregadas de tragédia, de absurdos comportamentos, como a enfermeira que espancou um cachorrinho e instigou a indignação de todos nas redes sociais. Apareceram pitbulls de todos os lados para acertar as contas com a assassina (o cachorro morreu). Também fiquei indignada, mas sabe o que mais me espantou? O fato de ela ter praticado o ato infame NA FRENTE DA FILHA DE 3 ANOS. Não me lembro de nenhum adendo sobre isso nos protestos que li na internet. O cão morreu, o que me entristece, mas a inocência da criança também foi espancada e pela própria mãe. Acho tão contraditório como o interesse humano deixa passar fatos graves como esse.
O que me lembra de um quadrinho que vi na internet sobre a morte do Stevie Jobs:
A enxurrada de mensagens com frases do Stevie Jobs na internet foi emocionante, cheias de calor humano e sensibilidade, mas porque as pessoas não se comovem com a realidade da pobreza extrema que está estampada nos jornais todos os dias? Crianças no mundo inteiro morrendo de desnutrição, abandono, doenças que lhes foram transmitidas, tanta crueldade e nada comove. Mas não é preciso ir longe para ver essa realidade. O lixão da estrutural é logo ali. Os sinaleiros estão repletos de mendicantes - os quais, segundo as lideranças comunitárias, não precisam das nossas esmolas, mas de oportunidades. Não poderia concordar mais, exceto pelo fato de que nós não queremos ou não temos oportunidades guardadas no bolso para entregar no sinaleiro. Ou alguém se dispôs a unir a oferta e a procura social nos postos de recolhimento de brinquedos? Ah, gente, só para avisar, brinquedo usado não mata a fome!
Outra imagem chocante que vi no facebook esta semana foi esta:
Passei um bom tempo olhando nos olhos desse garoto, mas só consegui pensar que, acreditando ou não em Deus, o que deveria me chocar é o fato de que EU, um ser humano com existência plenamente reconhecida, com certidão de nascimento e muitos outros documentos que a comprovam, além do testemunho dos transeuntes que passam por mim diariamente, EU, pessoalmente, não tenho um plano para esse garotinho ou qualquer outro em situação semelhante à dele. E isso é muito mais vergonhoso! Espero que a pessoa ou instituição que postou isso tenha planos, não, mais que isso, tenha atitudes que façam a diferença. Espero que possa encarar os olhos dessa criança como eu não consegui, independente da existência de Deus.
Por falar em Deus, em caso de Ele existir, imagino o sofrimento que é acompanhar as inúteis batalhas humanas. Enquanto os religiosos tentar converter os ateus, provando sua superioridade por ter um Deus que cuida dos mínimos detalhes de suas vidas, trazendo inclusive a tal prosperidade tão sonhada, um Deus criado sob medida para gravitar em torno dos seus umbigos e servir de desculpa para todo julgamento estúpido que eles se permitem fazer, vejo os ateus se lançarem furiosos contra essas crenças que consideram cegantes, alienantes e infantis, parecendo tão ofendidos com a fé alheia, como crianças emburradas porque não conseguiram convencer o amiguinho a jogar segundo as suas regras. A única coisa que não vejo nos posts da internet é a intenção pessoal de fazer a diferença. É o MEA CULPA de se descobrir omisso, indiferente, egoísta. A frase geral é: desculpe, essa luta não é minha! E começa o jogo do empurra: é do governo, é dos ricos que devem diminuir a desigualdade social, é das instituições filantrópicas, é SEMPRE do outro.
Puxa, o que a chuva não faz na alma! Enxurrada de idéias que faxinam as falsas intenções e nos obrigam a encarar o espelho e, se ainda houver esperança, se horrizar mais com o rosto que encontramos ali do que com as convicções e motivações alheias!
Texto fantástico!!! Tive a impressão de ver a Red Santos de sempre, justa, indignada com as diferenças desnecessárias e aviltantes. A Red que quase sentiu na pele toda essa dor e agora, em melhores condições, luta para defender outras pessoas dessa mesma dor, por acreditar em um mundo diferente. Melhor que isso, por querer fazer um mundo diferente! A sua alma é linda, Red, como lindos são os seus olhos! Bjs e... continue escrevendo! Nós precisamos disto!
ResponderExcluirImagem como a dessa criança que pede para que as autoridades evagelicas, espiritas, catolicas e, budistas peço licença para acrescentar o politico e outras com certeza não são publicadas. Mas publica-se ação mostrando o que fazem atraves da desgraças das pessoas que não tem sabedoria que repudiem tal atitude hipocrate.
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