domingo, 29 de janeiro de 2012

Notícias que escurecem o dia

As tragédias deveriam ser acontecimentos esparsos que nos alcançam de tempos em tempos, cujo impacto - seja pela intensidade do fato, seja pela sua magnitude - nos abala de tão forma que nada mais será o mesmo depois delas. Alguém mudou a lei do espaçamento das tragédias e elas estão acontecendo como avalanches. 
O desabamento dos três edifícios no Rio de Janeiro tem escurecido os últimos dias. A fragilidade da vida  nos afronta, nos fere. A humanidade que busca com sofreguidão a longevidade recebe um soco na boca do estômago com notícias como as dos desabamentos da região serrana, as inundações nos estados do sudeste, terremotos e tsunamis mundo afora.
Acontecimentos imprevisíveis (ou não) açoitam nossa aparente segurança e controle sobre os nossos dias de vida. Essas perdas humanas realçam nossa incapacidade de proteger a vida (a nossa, a dos nossos queridos, a de qualquer um). E como se não bastasse o fato de não termos controle algum sobre as forças da natureza, e sermos extremamente limitados para vigiar as estruturas físicas que nos cercam, ainda há no ser humano uma capacidade de ferir o outro, de destruir seu meio ambiente, de encontrar formas de implodir a sociedade em que vive.
A intolerância para com o outro cresce em nós como uma erva daninha. Nós somos mais inteligentes, mais interessantes, mais bonitos, perfeitos, corretos... os outros, ah os outros, temos tanto a ensinar aos outros, vemos defeitos mil e podemos sempre apontar suas imperfeições, pois há em nós uma extrema facilidade de transformar a impaciência em violência e a irritação em ira mortal.
A tragédia traz a consciência da nossa pequenez. Traz também solidariedade com os que sofrem e, se abrirmos os olhos, aguçarmos os ouvidos e entendermos com o coração, ela traz ainda a comoção que nos faz refletir sobre o que realmente é importante na vida e nos ajuda a desembaraçar-nos do superficial, do aparente e do supérfluo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A arte que imita a vida...


Sou completamente apaixonada por cinema, desde que pisei em um pela primeira vez. Minha irmã tinha um bar no centro de Taguatinga e um belo dia, no meio da tarde, fui com minha mãe até lá, e minha irmã pegou dois picolés no freezer, me puxou pelo braço e me levou para assistir um filme dos trapalhões no Cine Lara (acho que esse cinema nem existe mais). Mágico! Fiquei fascinada e nunca mais consegui ficar sem filmes!
Como uma boa adolescente assisti ET aos prantos e vi duas sessões seguidas. Os caçadores da arca perdida foram testemunhas do primeiro beijo no cinema, muito bom por sinal! Ainda me lembro da noite em que a turma toda do colégio foi assistir Dio come ti amo. A fita quebrava de vez em quando, mas todos ficamos firmes, encantados com a história de amor regada a música italiana.
Amo o cinema nacional e sinto orgulho da qualidade dos nossos filmes e dos atores incríveis que temos. Eu, tu, eles, com Regina Casé é meu preferido. Assisto mil vezes, sem cansar!
Não me canso de Woody Allen e fico embasbacada com os filmes dele, cada um melhor que o outro. E quando a gente pensa que não há mais nada que ele possa trazer, a mágica acontece. Depois de ver Meia-noite em Paris, precisei ficar sentada um tempo, vendo as pessoas saírem do cinema e tentando absorver tudo o que o filme trazia de belo e fantástico. Não consegui, preciso ver de novo.
Aprendi a apreciar o cinema iraniano. Filmes como Filhos do paraíso e Balão Branco me conquistaram para sempre e sou fã de carteirinha. A riqueza de significados nas cenas do cotidiano me deixam sem fôlego. Posso assistir tantas vezes o mesmo filme, e a cada vez encontrar novas nuances, novas reflexões, novas descobertas. Tudo sem a bengala dos efeitos especiais ou o exagero dos finais ultra-mega-hiper-felizes hollywoodianos (que também têm seu lugar na história cinematográfica, mas cuja receita já está pra lá de manjada).
Fui ver A separação no domingo passado e parecia que estava praticando mergulho. A densidade da história nos puxa para lugares dentro de nós mesmos que nem imaginávamos existir. Sempre fico me perguntando com qual dos personagens me identifico, e sempre respondo: tenho um pouco de cada. Como um espelho muito sincero, o filme nos faz ver as imperfeições humanas que carregamos todos os dias sem perceber, ou pior ainda, completamente conscientes.
Como já declarei várias vezes, eu tenho manias estranhas. Minha mania quanto ao cinema é fazer sessões duplas de vez em quando. Assisto dois filmes seguidos, me deleitando com a pipoca que é imprescindível e na minha própria companhia, para curtir melhor todos os detalhes, sem distrações.
Fiz isso hoje à noite com dois filmes que foram filmados em Buenos Aires, minha cidade preferida atual. Medianeras é um achado. Faz rir, faz refletir, faz sonhar. A solidão que impera nos dias atuais, a interatividade virtual que acaba afastando as pessoas ao invés de aproximá-las, a eterna busca pelo amor! Também quero saber onde está Wally!
O segundo filme mostra uma realidade triste. A história de crianças nascidas na época da ditadura argentina, cujos pais foram presos ou desapareceram. Alguns foram "levados" por estrangeiros ou até mesmo criados pelas famílias dos oficiais do próprio exército que prendia seus pais. Muitos sentimentos envolvidos, muitas versões para a mesma história.
Recomendo os três filmes, recomendo também o café no Casa Park (Saborella) para coroar o programa. Só não esqueçam de levar dinheiro para pagar o estacionamento, porque eles não aceitam o de plástico. Ainda bem que achei um anjo da guarda que me doou o dinheiro, já que os caixas eletrônicos não estavam funcionando. Obrigada, anjo, te devo um café!


  

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

o nosso tempo



O que é importante?

Hoje passei um tempão encarando a xícara de café sobre a mesa e fazendo um balanço desse primeiro mês de 2012. Não terminou ainda, mas já foi intenso até aqui. 
Você atravessa o limiar do Ano Novo pisando forte e levando uma lista de resoluções para colocar em prática: 

1. Ser mais saudável - leva até fruta para o trabalho nos primeiros dias, faz cara feia para todos os refrigerantes e jura que nunca mais vai colocar óleo na comida.

2. Encontrar a felicidade - já mandou avisar para essa bandida que não quer mais brincar de pique-esconde. Agora é olho no olho, vamos falar francamente, porque o tempo está curto e não dá mais pra ficar na incerteza!

3. Cultivar seus talentos - faz matrícula na aula de dança, violão, sapateado, teatro, o que estiver à mão. Cria um blog e enche a caixa dos amigos de recados para que eles apreciem sua criatividade literária. Compra um par de tênis novos e se inscreve em todas as corridas do ano. 

4. Reconstruir suas pontes - liga para os familiares, marca saídas com amigos de longa data, combina uma viagem de reencontro com a turma do segundo grau. Só não vale ligar para o(a) ex e deixar um recado tipo "nunca te esqueci, os outros são os outros e só..."

5. Mudar o que incomoda - limpa o guarda-roupa e sai para comprar roupas novas, marca hora no cabeleireiro para virar ruiva e termina com um corte futurista, faz inscrição no concurso do senado, faz test-drive no carro dos sonhos... em várias concessionárias, compra um bilhete da mega-sena e já sonha com  o que vai fazer com os milhões.

No final de janeiro, meus sonhos já estão mais modestos. 
Pretendo apenas me livrar da depilação com cera, da anemia que me persegue, dos eternos impostos anuais (IPTU, IPVA e companheiros) e da sensação de impotência e vergonha por ver que, enquanto em Cuba morre mais um preso político que fez greve de fome para protestar contra um governo que não lhe dá sequer o direito a um processo judicial justo; enquanto na Argélia, um jovem de 26 anos ateou fogo em si mesmo desesperado pela falta de empregos no país; enquanto na europa a crise financeira desestrutura os países; enquanto aqui mesmo em Brasília, a cada 4 dias, um jovem morre em acidente de trânsito, e outros morrem sem atendimento dentro de hospitais que  exigem garantias de pagamento para prestar socorro; enquanto tudo isso acontece, as pessoas usam suas redes sociais para comentar e criar debates sobre "a Luiza que está no Canadá" e os "heróis" do Big Brother.




domingo, 22 de janeiro de 2012

Definições...

Estou muito feliz com a volta do nosso amigo sol!! Que falta ele faz! Eu já não caminhava há um bom tempo e vida de reclusa não faz meu gênero. Hoje matei a saudade do sol e da caminhada. 
Eu não estava completamente sedentária porque estou fazendo pilates, boxe e dança (mas isso é história para outra crônica).
Hoje eu li na Revista do Correio que é preciso entender a nova etiqueta dos relacionamentos. Como definir a pessoa que está do seu lado: ficante, meu amor, namorido, peguete. O menu é variado, o entendimento confuso e o dicionário ainda não sabe explicar tantos termos.
Hoje me senti antiga (gosto mais de antiga do que velha - antiga tem charme, eu acho!). Como diria minha mãe, no meu tempo, a gente tinha namorado, noivo ou marido. As funções básicas eram claras, o tempo de garantia razoável e o produto costumava ser de longa duração, com eventuais trocas efetuadas com cautela e depois de muitas tentativas de conserto ou ajustes.
A vida instantânea de hoje não combina com relacionamentos longos, aliás, parece que a palavra RELACIONAMENTO já é muito longa para ser pronunciada. Hoje em dia a gente fica, pega, apalpa, prova, tira uma casquinha, chaveca, e põe de volta na banca - parece uma visita à feira. Eu tenho uma dificuldade enorme em me adaptar a essa etiqueta. 
Parece que eu tô sempre na contramão (será que é por ser canhota, mulher, antiga e fazer uso diário dos meus poucos e preciosos neurônios?). Olho nos olhos quando a etiqueta diz para não demonstrar interesse, ligo quando quero falar com o produto - mais uma gafe, a regra do jogo é se fazer de difícil. Chego na hora ao encontro marcado (espera, acho que não se diz mais encontro, agora é: de repente, a gente se vê, a gente se fala, a gente se esbarra! tudo para não se comprometer). 
Também não consigo chamar alguém de "meu amor" depois de  cinco minutos de conversa fiada no MSN ou no celular. Acho que é porque amor para mim tem uma conotação de seguir na mesma estrada e em cinco minutos não sei ainda se quero dar nem uma volta no quarteirão com a outra pessoa.
Desse jeito, acho que meu lugar na roda viva dos relacionamentos de hoje está seriamente ameaçado. Estou à margem do grupo, com possibilidade de banimento ou extinção. Será que é porque eu sei o que quero? É gente, eu sei! 
Eu quero um homem que entenda que o meu carinho não é um carimbo de propriedade na pele dele, mas flui normalmente porque me sinto bem do seu lado; um homem monógamo, que tenha como regra de vida amar uma mulher DE CADA VEZ e não todas ao mesmo tempo;  um homem companheiro, que não tenha a ilusão de que a mulher tem que ser 24 horas bonita, cheia de frases inteligentes, delicada e sempre pronta a escutar seus resmungos, reclamações e arrependimentos do passado, mas que jamais resmungue, reclame ou tenha sequer passado; um homem que me peça para dividir a conta sem embaraço, mas que vez ou outra, principalmente no primeiro encontro, assuma seu papel de provedor sem me achar uma interesseira; um homem que entenda como regras básicas de educação, atender as minhas ligações, chegar na hora aos nossos compromissos, avisar se não puder aparecer, dizer adeus e não apenas desaparecer.
É isso que eu quero, além é claro de ser muito importante que eles jamais tomem conhecimento da existência uns dos outros!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Coisas que aprendi com a Radical Chic

- Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcóolicas, pão, biscoitos... e os pulsos.
- Sou uma mulher independente, segura, realizada, dona do meu nariz. Consigo ficar até um tempo sem pensar nas coisas do amor... Viram só? um minuto e meio, meu recorde.
- Homens, melhor não tê-los. Mas se não os temos, como deixá-los?





























Faço meditação, aeróbica, judô, musculação. Jogo xadrez, vídeo game, King e batalha naval. Estudo antropologia, física quântica, matemática e arqueologia. Escalo montanhas, faço vôo livre, salto de paraquedas. Leio, escrevo, toco piano, pinto e bordo. Ufa, o que a gente não faz para compensar a falta de sexo!!















O sol voltou!!!


Puxa, sol, que saudades!! Não faz mais isso comigo, fica por aqui, tá bom? Beijo

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

café sem sol

Eu vi o sol hoje! Bem cedinho, ele apareceu para brincar um pouco, beijou meu rosto, fez graça sobre a mesa do café, acariciou as poças de água da chuva e foi embora reinar em outro lugar, me deixando abandonada!
O frio é um companheiro que a gente tenta não perceber. Disfarça com um agasalho, uma meia de lá, uma bota. Toma café segurando a xícara com as duas mãos para esquentar por dentro. O frio desacelera os pensamentos e a gente se sente obrigado a refletir. 
A história do PM que atirou nos dois rapazes não sai da minha cabeça. Novas notícias do jornal parecem garantir que foi mesmo em defesa própria. Que loucura! Tudo é uma loucura: um anda armado, o outro dirige embriagado, dois acham que são invencíveis e se atiram para a morte. Que tristeza! O frio aciona meus botões emocionais e eu saio a procura de um café muito muito quente para espantar tanto sentimento. Sentimento demais borra os olhos...
Hoje vou voltar ao Grenat, buscar o calor do vermelho-red com amigas que me são muito queridas. Conversar, rir, falar dos livros que lemos, da vida que estamos levando, provavelmente desses sentimentos que o frio açula e que crescem no peito.
Falar também de Paris, meu próximo destino - se Deus quiser! - em março próximo! Lá também vou ter o frio como companhia, os sentimentos vão na mala do coração, os olhos vão borrar, mas vão também degustar um antigo mundo novo, que me encanta e me fascina. Achando o imprescindível café por lá, vou ficar bem. Provavelmente a mala dos sentimentos vai voltar repleta, mas, com sorte, eles vão refletir alguns raios de sol.
Agora o frio me trouxe saudades de Paris, que eu nunca vi, mas pela qual tenho anseios! Volta sol, os sentimentos estão me arrasando...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Chuva de notícias

Ando meio desanimada de perambular pela cidade em busca de cafés, pois a chuva traz essa sensação de lentidão, preguiça. E confesso que abrir o facebook e ver fotos dos amigos na praia dá uma inveja que faz a gente querer se enfiar embaixo das cobertas e não sair de lá até fevereiro.
Mas Fernando Pessoa tem razão, os dois dias são belos, vamos vivê-los! Continuo tomando café da manhã no Mc Donalds, continuo lendo o jornal e me deprimindo.
Como se já não bastasse a violência inerente a um acidente de carro, um PM resolveu atirar nas pessoas que bateram no seu carro. As versões não são claras. A família do carro que bateu na traseira do carro do PM conta que ele atirou a sangue frio após uma discussão com um dos irmãos (eram dois, um deles está morto e o outro em coma). O PM alega legítima defesa, perseguição e que ia ser agredido. Deus, que confusão as pessoas fazem quando bens materiais estão envolvidos.
Um cidadão cujo trabalho é proteger e servir, que foi treinado para ter controle sobre suas emoções em momentos de perigo, puxa a arma e atira seis vezes. Os outros envolvidos no acidente chamaram a família, não se sabe o teor da conversa e pelo que se lê no jornal, as partes estavam exaltadas. Dois carros, uma batida, a falta de capacidade de se comunicar sem agredir, sem ofender, sem ampliar a tensão que já está à flor da pele, e o resultado é um ser humano morto e outro gravemente ferido.
As notícias sobre política sempre trazem um gosto amargo. Nem o café remove do paladar essa tristeza de saber que somos um país de políticos corruptos, que desviam verbas vitais para a prevenção de catástrofes como as que estão acontecendo com as chuvas e que ceifam vidas. Quando será que o povo brasileiro vai aprender a votar! E mais, quando vamos aprender a reclamar, cobrar, usar esses sentimentos de raiva e nojo em protestos contra um governo omisso que nomeia incompetentes para cargos em que deveriam estar técnicos.
O naufrágio do cruzeiro com 4000 pessoas chocou a todos. As vendas pela internet são cheias de arapucas, maus serviços e falsos sites que levam embora o nosso dinheiro sem a devida contraprestação. Foi uma manhã de notícias tempestuosas, com direito a raios e trovoadas.
Mas consegui um raio de sol em meio a essa enxurrada de tristeza. Conheci a Laurineide, uma gari que acredita no ditado "quem canta seus males espanta" e leva a vida com muito otimismo e música. Mesmo levantando às 5 horas da manhã para ir trabalhar, ganhando pouco, com uma história de uma infância difícil no interior do Piauí, um casamento marcado por espancamentos, a falta que sente do pai a quem não vê há 12 anos, com tudo isso, Laurineide acredita que a alegria é a melhor companheira na hora da dificuldade e canta com vontade, transformando a rua em um palco.
Ganha sorrisos, palmas e até acompanhamento vocal dos mais ousados. Ganhou minha simpatia e qualquer dia vou visitar essa artista da rua e pedir uma palhinha! Laurineide, sua história foi meu guarda-chuva nesse temporal! Obrigada!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As nuances dos sentimentos

Ela sabia por experiência própria que cada sentimento tem um colorido diferente. Colorido que nasce no círculo mais restrito do coração, pintado pelas mãos habilidosas da alma, com cores fornecidas pelo estado de espírito, pelas circunstâncias, pela química, pela carência, pelo excesso. Tantos fatores que se somam para matizar o sentimento! É como a assinatura de uma pessoa, ou sua digital, não existem duas iguais!
Mas ela também sabia que quando se quer muito uma coisa, o sentimento cresce, toma conta, faz tudo para se sobressair. E o dono do sentimento inventa maneiras de satisfazê-lo. De chegar até o outro e tocá-lo, tentando despertar uma resposta que traga brilho e leveza de espírito.
Decidiu confiar naquele ilustre desconhecido de fala gostosa, quase degustável, que segredava ao seu ouvido um mundo inusitado de sensações, enterrado pelas desconfianças que a vida ensina.
Ele era realmente tentador. Sua presença enchia o lugar onde estavam. Ela se sentiu boiando num mar morno e cheio de ondas que despertavam alegres impressões. Desconfiada por natureza, lutou contra a razão, jogou fora a sensatez e se deixou levar pelas cores vibrantes que se avizinhavam até preencher um espaço considerável. Assustou-se, mas não quis voltar atrás.
Quando o moço bonito se distanciou fisicamente, mas atou um fio invisível que a prendia a suas mensagens, telefonemas e promessas vazias, ela sentiu descair o brilho, descorar o tom, diminuindo, diminuindo até só restar um tom cinza pálido e sem graça. Quando ele disse: "não estressa", a neblina chegou na alma. Ela parou, pensou, e chegou à conclusão que solidão a dois é muito pior que estar só. Tirou o sentimento do coração, cinzento e esfumaçado, e enterrou fundo no cemitério das desilusões, depois fechou a porta e foi tomar café.