quarta-feira, 11 de julho de 2012

Testamento


Toda vez que eu vou viajar tenho um ritual. Anoto contas bancárias, senhas, dados de seguro de vida, possível localização do meu cofrinho e tudo que possa servir de herança para o meu filho, dobro e ponho em local secreto para nós dois. Fica tudo lá, minha ínfima herança financeira. Se tiver dívida pendente, anoto também, fazer o quê, herança também pode ser negativa, certo?
Quando a viagem é breve ou próxima, penso pouco a respeito dessa história de legado. Mas dessa vez vou cruzar o oceano, umas 10 horas de voo, eu acho. Resolvi meditar no que posso considerar como parte integrante de um verdadeiro testamento.
Queria ter certeza que fiz o melhor na criação do JV. A maioria dos dias, acordo me sentindo bem no meu papel de mãe. Acho que dei exemplo, educação e dividi com ele o pouco de cultura que me coube e que tento ampliar sempre que posso. Também ensinei sobre fé, caráter, sinceridade e amor. Bom, assim fica tudo coberto, então.
Para a família, não sei dizer se sou o que se pode chamar de inesquecível ou mesmo memorável, mas tenho afetos espalhados no coração de irmãos, sobrinhos, primos, tios e assim por diante. Existem fotos suficientes para provar minha participação nos eventos familiares e lembranças que podem alimentar as histórias que começam com: "você lembra aquele dia em que ela...". Ela sou eu e sei que posso ser alvo de boas recordações e grandes risadas e isso é um alívio!
Para os amigos, deixo minhas frases de efeito (não lembro bem quais são, mas elas existem, eu sei, e eles falarão sobre elas), a imagem mais recente do nosso último encontro, que com certeza envolveu um abraço, um sorriso, uma piada sobre o momento. Deixo também a promessa de que são inesquecíveis e alvo do meu melhor carinho (a gente tem um carinho mais ou menos, né, todo mundo sabe disso).
E se (ou quando) eu voltar, arquivo o testamento para a próxima viagem, mas mantenho todo o legado que escrevi e que na verdade é tudo que realmente me interessa.