terça-feira, 24 de abril de 2012

Tal gente, tal pássaro

Hoje eu vi dois passarinhos brigando. Tive que ir ao hospital por causa de uma laringite que me roubou o sono, o som da voz e o sorriso. 
Normalmente, eu trato doença como aquelas pessoas que forçam a amizade. Aceno com a cabeça concordando, finjo que a piada não é comigo e desvio. Mas essa se agarrou a minha garganta, literalmente, e não tive escolha senão recorrer aos cuidados médicos.
No estacionamento, entrei no carro e vi a cena inusitada: dois passarinhos se atracando no chão. Voavam um pouquinho, sempre com as patas agarradas e os bicos grudados e voltavam a cair, rolar, uma verdadeira pancadaria. Acho que o motivo era sério, eles rolaram metade do lugar, sem se preocuparem com a possibilidade de serem atropelados ou se ralarem em pedras. Um homem que cuida dos carros tentou soltá-los, mas eles simplesmente bateram asas agarrados e ganharam distância de nós.
Nesse momento eles estavam muito parecidos com nós seres humanos. Quando pulamos uns sobre os outros no calor do momento, nem a iminência da morte nos faz recuar. Que triste!
Sai de lá imaginando diálogos para aqueles dois pássaros. Se fossem um macho e uma fêmea:
Ela: Bandido, achou que podia me trair com aquela pardal esquelética, que só tem pena e osso? Vou te mostrar com quantos gravetos se faz um ninho!! Me larga...
Ele: Você tá louca! Pegou a gripe aviária? A garota é namorada do João de Barro, estava só me perguntando como abrir uma conta no twitter! Só largo se você se acalmar...
E se fossem duas fêmeas:
Ela1: Periguete, sirigaita de uma figa! Quem disse que você podia dar mole pro meu marido? Agora você vai ver estrelas sem voar!
Ela2: Sua balofa horrorosa, ele que me procurou! Disse que você não é mais a pardalzinha tchuchuca com quem ele casou. Ai, larga minhas penas, acabei de passar chapinha!
E se fossem dois machos:
Ele1: Retira agora o que você disse sobre o Gavião Futebol Clube, seu pardalzinho safado de segunda classe...
Ele2: Se você for macho mesmo, faz eu retirar, seu colibri vira-casaca!!
Cheguei em casa, tomei os remédios, me arrumei para o trabalho e ainda poderia escrever uns 20 diálogos para os pássaros briguentos... A imaginação realmente nos dá asas!

domingo, 22 de abril de 2012

Brasília, capital da esperança... em quê mesmo?

A imagem ao lado tem circulado pela net e produzido vários comentários nas redes sociais. Alguns reclamam do fato de Brasília ser vista como um reduto de corruptos, corruptos estes eleitos em outros estados e enviados para cá. Eu mesma já usei essa frase quando viajei para outros estados e me perguntaram de onde eu era.
Ontem brasília completou 52 anos, uma criança! Durante toda a semana passada tivemos eventos para celebrar esse aniversário. A Bienal do Livro, shows de artistas fantásticos, competições, maratonas, balonismo. Tudo muito próprio para uma senhora respeitável, se ela realmente pudesse ser vista assim.
Infelizmente, Brasília tem se comportado de maneira reprovável. Seja pelos habitantes políticos que insistem em demonstrar falta de ética e compromisso público, seja pela administração falha de seus recursos que transformam a saúde, a educação e a segurança de seus moradores em uma piada de mau gosto. Hospitais sem condições de atendimento, professores em greve por um salário digno, violência desmedida e descontrolada aterrorizando a cidade.
O que há realmente para se comemorar? E, talvez a pergunta mais importante, como comemorar? Pão e circo tem sido o "cala boca" do povo desde os romanos (provavelmente, antes). A receita se repete e a população engole o agrado e esquece de reivindicar, exigir, protestar. Milhões gastos em uma semana, enquanto teremos mais uma administração de 4 anos sem atenção ao que verdadeiramente é importante no nosso dia a dia. Quantas outras formas para se empregar o dinheiro suado dos contribuintes. Que me desculpem os mecenas e amante das artes, mas preferiria ver minha parcela dos impostos aplicada para evitar mortes em filas de espera dos hospitais, para evitar mortes por estarmos  sentados com amigos e sermos alvejados por bala perdida, para evitar a morte cultural e intelectual de jovens que não recebem educação de qualidade. 
A festa alegra o momento, os fogos de artifícios, a música, o show de bola, tudo muito lindo mas extremamente efêmero diante da falta de estrutura que amarga nossa vida por anos a fio.

sábado, 14 de abril de 2012

Eu fico com a pureza das crianças

O ser humano é mesmo engraçado! Quando somos crianças tudo que queremos é crescer. Crescer para alcançar a prateleira mais alta da estante. Crescer para ler mais que gibis. Crescer para sair sozinha. Crescer para dirigir o carro. Crescer para escolher.
Aí a gente cresce e tem dias (muitos dias) em que tudo o que se quer é ser criança. Inocente, alegre com desenhos animados, papinhas e brincadeiras. Dormir feliz no colo de quem nos ama e protege. Não ter que pensar em problemas ou tomar decisões difíceis (mesmo as fáceis podem ser fardos).
Outro dia fui ver a Dany e não consegui resistir ao Arthur, o bebê dela que ainda não tem 2 anos. Tem coisa mais gostosa que abraçar uma criança, cheirar, beijar, ver um sorriso gostoso se espalhando pelo rosto deles e aquele olhar maroto de "eu sei que você tá doidinha por mim". Fico assim perto do Rafinha da Simone, é automático. Chego na casa dela e tenho que agarrar aquele garoto! E ele corre com as perninhas curtas, sabendo que eu vou logo atrás, e finge que se esconde perto da porta.
Ficar perto de crianças é como uma desintoxicação. Não importa a idade deles, a gente aprende tanto. São risadas despreocupadas que lavam a sua alma e fazem você esquecer de tudo. São perguntas altamente complexas, como a da Mafalda: Mãe, porque existe gente pobre?, ou completamente simples: Pai, como foi que eu nasci? E que nos fazem pensar com cuidado no que responder e como explicar para essas criaturinhas maravilhosas o mistério da vida.
Dar atenção a eles é como mergulhar em um rio límpido, com águas quase transparentes, e sair do outro lado com a sensação de ter uma segunda chance, de começar de novo, com cheiro de talco e shampoo Johnson.
Eles nos dão a dose certa de consciência da fugacidade da vida. De como o tempo é curto e urge. De como é importante escolher a estrada, limpar os pés e seguir em frente com cautela, mas sem perder o prazer de olhar pros lados, apreciar a paisagem, sentir o sol na pele, parar por vezes e procurar uma mão amiga, uma voz que oriente, uma sombra para abrigo. Repor as energias com um sono doce, sem sobressaltos, sentindo que o amanhã está a um passo de onde estamos.

domingo, 8 de abril de 2012

Notícias que amargam o café e a vida

O Superior Tribunal de Justiça julgou as vítimas de estupro e as sentenciou culpadas. Crianças abusadas que se prostituiam - provavelmente a única opção de vida que tinham - não foram consideradas dignas de justiça. Praticamente mereceram o estupro sofrido, procuraram por isso. É  essa a lógica, ministros? Que país é este?
Um garoto de 21 anos atirou a esmo fugindo de um assalto que ele praticou e atingiu um outro garoto de 32 anos, pai de uma garotinha de 5 meses, esposo, amigo, filho de alguém. Enquanto isso, no mundo virtual, os policiais militares criam comunidades que comemoram o caos, os homicídios e o aumento da criminalidade, o que fortalece o movimento grevista (ou operação tartaruga) deles por aumento salarial. Que país é este?
Ao ler notícias assim a boca seca, o café se transforma em borra presa na garganta. A lágrima escorre e a gente tem medo do presente, que dirá do futuro.
Você tem toda razão, Albert Einstein, "o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aqueles que permitem a maldade".