domingo, 26 de fevereiro de 2012

O vale da sombra da morte


Eu cresci frequentando a Escola Dominical de igrejas tradicionais protestantes. Um dos primeiros salmos que decorei foi o 23. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum". Também na igreja, ouvi certa vez um hino cantado em dueto do qual nunca me esqueci e que sempre traz um acalanto nos momentos tristes. "A sombra da noite se aproxima e nela o tentador vai chegar. Não, não me deixes só no caminho. Ajuda-me, ajuda-me até chegar" (Divino Companheiro - Renato Suhett).
Esse hino faz alusão a passagem bíblica do Caminho de Emaús. Depois da morte de Jesus, dois discípulos caminhavam perdidos em sua tristeza e encontraram um desconhecido que andou com eles por muito tempo. Um dos discípulos relatou que seu coração ardia como se reconhecesse seu mestre. 
Normalmente, meu assunto no blog é café. Sabores, cheiros, misturas, locais preferidos. Hoje preciso falar dessa sombra que se avizinhou e me trouxe mais um aprendizado.
Eu estava em Uberlândia no período de carnaval e na terça-feira à tarde, já pensando na viagem de volta, recebi um telefonema do meu filho. Ele me pediu pra manter a calma e que tudo estava bem, mas queria me avisar que tinha sido assaltado.
Saiu de casa com 2 amigos, por volta da hora do almoço, para comprar alguma coisa no supermercado que fica a poucos metros do nosso prédio. Sol a pino, quase chegando na esquina da rua, sete garotos (não tinham mais que 17 anos) ensandecidos, com garrafas quebradas, cercaram os 3 e exigiram seus pertences. Um deles atacou meu filho com a garrafa quebrada e, para não sofrer um golpe certeiro no peito, ele se defendeu com a mão. Esses detalhes eu só soube quando já tinha chegado em casa, mas ele me ligou de um hospital e isso fez meu coração bater pesado no peito.
Quem me conhece sabe que eu lido com as dificuldades com muita firmeza. Qualquer sentimento que me assalta passa por um processamento. Eu fico quieta, tentando domar aquelas sensações e entender o que está se passando. Não demonstro fácil minhas fraquezas (outra fraqueza, talvez). E assim foi com essa notícia. Por dentro, uma tormenta se formava, por fora, tentei manter a serenidade. 
Acredito também que a fé é uma ferramenta poderosa nessas horas. O fato de me saber impotente, distante da pessoa que me é mais cara no mundo em um momento de sufoco, poderia facilmente me debilitar ao ponto de me sentir incapaz de dirigir 550 km para voltar para casa. Seria com certeza, e acho que todos concordam, um motivo mais que razoável para lágrimas (que me visitaram depois, quando já tinha posto minhas mãos no João Vitor) e comoção.
Daí lembrei do Salmo 23 e a música do Caminho de Emaús tocou na minha mente e me acalmou o espírito. Vim dirigindo com certa ansiedade sim, mas entendendo a cada quilômetro que o meu filho estava vivo, motivo de alegria e agradecimento, e que é preciso se manter firme para atravessar a escuridão e esperar o nascer do sol.
Ajuda muito sentir o coração arder com a presença reconfortante do Mestre.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cafeeiro e Kopenhagen


Estou de novo em Uberlândia, passando o carnaval no spa como uma pessoa consciente dos seus maus hábitos alimentares deve fazer. O problema é que tem um bichinho da inquietude dentro de mim e eu detesto ficar 4 dias isolada do mundo. Fui para o shopping tomar café na minha poltrona-colo preferida no Cafeeiro e também fui ao Kopenhagen Café, tudo de bom!!
Assisti um filme que dá brilho de chuva nos olhos: A invenção de Hugo Cabret. Ele faz uma analogia muito legal sobre o mundo e uma máquina. Uma máquina não vem com peças sobrando, são todas certinhas e encaixadas para funcionar, para cumprir o propósito da máquina. O mundo também não tem seres humanos sobressalentes, ninguém está por aqui sobrando. A gente só precisa entender nosso propósito e aí tudo se encaixa. 
No fundo, todo mundo tem que entender seu valor, a que veio, pra que serve. Mas tem que entender também que o outro também tem um propósito. Quem não enxerga o seu propósito, anda vagando, perdido, triste, sujeito a chuvas, trovoadas e depressões frequentes. Quem não entende o propósito do outro abre espaço para o preconceito, começa a se achar melhor que os outros, mais puro, ariano, sei lá o que mais.
O tal propósito também não precisa ser enorme, incomparável, estupendo. Pelo contrário, alguns propósitos são tão básicos, mas vitais para os outros. Tipo aquela pessoa que parece trazer em si toda a serenidade do mundo, e sai distribuindo atenção pra um, ouvidos atentos para o outro, mal fala, mas ajuda muito com o silencio atento de quem quer ouvir o que você tem a dizer.
Tem um amigo no facebook que posta fotografias que ele mesmo tira, um talento! As fotos falam tanto comigo que tenho vontade de escrever histórias sobre elas, e tenho certeza que falam com os outros também, traduzem sentimentos, intenções, palavras que guardamos e não sabemos como expressar.
Achei ótimo mesmo esse negócio de ter um propósito. Valeu, Hugo Cabret, obrigada pela lembrança!




sábado, 18 de fevereiro de 2012

Oração

Que nunca me falte
a estrada que me leva
e a força que me levanta
o amor que me humaniza
e a razão que me equilibra
o pão de todo dia
e o verso de cada poema
Lou Witt

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Café amargo...

Tem dias que a vida parece uma xícara de café amargo. Uma enorme xícara em que você caiu dentro   e luta com todas as forças para emergir, engolindo essa bebida escura, que desce rasgando a garganta.
Notícias como a morte de pessoas queridas trazem essa sensação. 
Mas, pensando bem, mesmo a morte de pessoas desconhecidas, como os dois rapazes de 26 anos, no auge de suas existências, cheios de planos, com os olhos brilhando na fotografia estampada no jornal, mesmo essas mortes nos afligem. 
O amargo na boca nos faz pensar sobre a fragilidade  da vida. A fugacidade do tempo que não pára, não espera, não diminui a velocidade. A Withney Houston também foi embora. Vida brilhante, mulher fantástica, presenteada com beleza, voz, presença. Vida marcada também por momentos dificeis, doloridos, que embaçaram seu sorriso e atormentaram sua alma.
É também amarga a sensação que bate quando a gente lê no jornal sobre garotos de classe média e alta que espancam pessoas na rua, sem tetos, pessoas humildes, homossexuais, qualquer um que não se adeque aos seus (des)valores.
E de repente, surge um gosto doce, um leve toque no meio de tanta tristeza. Surge o Victor. Um rapaz que enfrentou a gangue de elite para pedir que eles parassem de bater no mendigo. E apanhou muito por isso. Surge um rapaz que tem consciência, valores morais, sabe o que é certo e errado e não se intimida em apontá-los. Um rosto lindo, mesmo massacrado por golpes covardes. O Victor é o açúcar do meu café amargo nessa semana. Que nunca faltem pessoas doces como você!


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um dia a dia quente, denso e escuro como o café



Esse mês de fevereiro tem sido dureza, alguns problemas, algumas decepções.

A Dilma não defendeu os direitos humanos em Cuba. Que decepção!
A PM da Bahia trocou de papel com os bandidos, acreditando piamente no mote: os fins justificam os meios. Que tristeza!
Em um país que se orgulha do seu crescimento econômico e seu desenvolvimento social, as pessoas ainda morrem de doença de Chagas. Acorda, Brasil!
E por falar em doença do coração, é triste ver a inveja tomar conta de pessoas próximas, transtornando comportamentos e levando a atitudes vulgares e abusivas. Acho que o melhor é manter distância...
O STF votou a respeito do controle do CNJ sobre os magistrados. Placar 6 x 5. Que vergonha!! Tinha que ser 11 x 0.
Minha anemia vai embora, a enxaqueca bate na porta. É mole?
As pessoas morrem congeladas na Europa e São Paulo tem ondas de calor insuportável. O que estamos fazendo com este planeta??
Civis são mortos na Síria, mas a ONU não se manifesta. Crueldade sancionada?
Corrupção no governo... qual é mesmo a novidade?
Demonstrar carinho e cuidado está fora de moda... mas como diz a Clarice Lispector: "Quando me entrego, me atiro. Mas quando recuo, não volto mais".
E pra fechar tudo isso... o Wando morreu. Que semana horrível!
Vou tomar café e ouvir Fogo e Paixão...