domingo, 27 de novembro de 2011

Guiomar de Grammont


Texto completo: http://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/16/ler-devia-ser-proibido/

Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.

                                         
Bertold Brecht

Assim caminha a humanidade...


sábado, 26 de novembro de 2011

Um cafezinho com Brecht


Ontem fui ao Teatro da Caixa assistir à montagem de Aderbal Freire Filho da peça "Na selva das cidades" de Bertolt Brecht. Quando fui comprar os ingressos, meu e do João Vitor, meu filho, aproveitei para tomar um mocha no Café Cultura - decidi que é o melhor mocha da cidade. Quando o convidei para ir ao teatro, o João Vitor perguntou: "sobre o que é a peça?", respondi: "Não sei, não consigo explicar!". 
E não consigo mesmo explicar Brecht, é tão intensa a experiência de assistir uma peça dele que só dá para decifrar tudo o que se viu, ouviu e experimentou horas, dias, meses depois. 
Foram 3 horas assim, intensas. É uma mistura da khatarsis de Aristóteles com epifanias que se sucedem na alma, até que você se esgota um pouco, por ter de pensar em tanta coisa de uma só vez. Se Brecht fosse livro, eu leria em pequenas doses, bem pequenas, não diárias, para conseguir absorver sua metafísica que estimula mas que tem uma alta dose de cinismo ao olhar para as relações humanas.
Nossa, esse texto tá chato e pseudo-intelectual!! Os atores são ótimos. Tivemos um intervalo de 10 minutos, corri ao Café Cultura e pedi outro mocha (overdose, eu sei, mas Brecht fundiu meu cérebro e eu precisava me recuperar!). 
A fila grande, o tempo curto, tive que beber às pressas (o que eu detesto, não dá pra se apressar uma degustação) e deixar metade na lixeira - no teatro só entra água, você e seu espírito aventureiro que vai mergulhar nas águas brechtinianas e voltar pra casa acabrunhado e pensando muito no que mais você anda vendendo além da suas opiniões... e porquê.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Otimismo perigoso


Ontem li no jornal que otimismo pode ser perigoso. As pessoas otimistas correm riscos desnecessários, porque consideram que nada pode ser tão ruim assim e estão sempre dispostos a arriscar, tentar. Estou parafraseando, simplificando até, mas às vezes dá desânimo ler jornal! Então, agora ser otimista não está mais na moda? não é tão bom assim? 
Acho que a palavra chave sempre será equilíbrio, mas nunca ouvi dizer que alguém gostaria de "uma pitada" de pessimismo, por favor. Vai ver sou otimista demais, provavelmente é isto que tem me atrapalhado este tempo todo. Agora preciso entender esse tal de equilíbrio. Acho que vou tomar um café e pensar a respeito.
Como será que a gente faz para ser apenas meio entusiasmado? Meio feliz, meio crédulo. Até aí, acho que dá. O problema mesmo é ser meio triste, meio incrédulo, meio down, meio blue. Só sei fazer as coisas por inteiro, mesmo que isso me corte ao meio.
Fui ao salão também esta semana, porque comprei um cupom de "tratamento capilar" nesses sites de compra coletiva. Minhas amigas me dizem que escova progressiva, selagem e afins é o que há. Doma os cabelos, ficam ótimos. Acho lindo quando vejo em outras mulheres. Fui lá domar meus cachos com uma hidratação de óleo de argan (seja lá o que isso for) que para mim significou passar um creme cheiroso no cabelo úmido, secar e passar a chapinha. Gente, descobri que odeio chapinha. Meu cabelo parece que foi lambido pela vaca. Tão comportado, equilibrado, morro de saudades dos meus cachos assustados com a umidade. 
Aí, como não faço nada pela metade, fiquei completamente triste. Me disseram que posso lavar amanhã. Não vejo a hora de ressuscitar a rebeldia nata dos meus fios e voltar a ser eu mesma. Desculpe o cientista que descobriu o lado ruim do otimismo, mas eu prefiro os riscos à monotonia do fio liso, perfeito e  intocado (ou seja, lambido de vaca, argh). Haja café pra meditar sobre essa tendência esquerdista de querer ser completamente feliz!

domingo, 20 de novembro de 2011

Grande Vinícius...


Café, teatro, risos e reflexões

Eu não sei muita coisa sobre o amor. A julgar pela minha carreira emocional, as pessoas poderiam dizer que o meu currículo não é dos melhores. Um casamento fracassado, um relacionamento longo idem, alguns namoros que... ponto. Quando vi o cartaz da peça com texto da Martha Medeiros, "Duas ou três coisas que sei sobre o amor", achei que poderia fazer um curso intensivo nas duas horas do espetáculo.
Combinei com uma amiga querida de chegarmos cedo ao Iguatemi para saborear um mocha e o famoso croissant do Café da Livraria Cultura. Bom, famoso para nós duas, que já decidimos ser o melhor croissant de Brasília. A noite foi ótima. Café, croissant, teatro com atores incríveis, muitos risos e algumas reflexões, só faltava encontrar minha alma gêmea por lá, mas acho que ele nasceu em 1885 e já se foi! Fica para a próxima!
Não tomem isso como incredulidade ou desânimo, mas acho que a maturidade faz dessas coisas, a gente vai descascando as camadas da vida (é gente, a vida é uma cebola, temos que ser realistas) e isso ajuda a descartar ilusões, aprender com os erros e dar importância ao que realmente merece. Não sei se o aprendizado foi grande, mas com certeza foi válido. Recomendo completamente a peça, com o Murilo Grossi, ótimo ator, e os demais de quem não lembro o nome, mas a culpa é dessa minha mente hiperativa que tem muito pra guardar e pouco espaço. Eles todos são fantásticos, vale muito a pena assisti-los! E não esqueçam do croissant!
E para fechar este texto, preciso dividir com vocês um dos muitos textos maravilhosos da Martha Medeiros:

A DOR QUE DÓI MAIS
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

sábado, 12 de novembro de 2011

Hoje é o dia perfeito


Moldando meu dia



Recebi um e-mail de uma amiga querida com um texto do Charles Chaplin que terminava dizendo: "O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim".
Como uma boa apolínea, morning-person para os ingleses, ou simplesmente uma pessoa do dia, acordei cedo e fui moldar meu dia. Desde que voltei do spa ainda não tinha ido tomar meu café com leite no McDonalds. Então, peguei o jornal de papel, um livro e fui manter viva minha tradição. Terminado o ritual, fui procurar refúgio no Parque Olhos d'Água para minha dose diária de Luís Fernando Veríssimo. É como uma descarga de endorfina - substância que o corpo libera durante o exercício físico - para mim. O riso brota, as imagens vão passando em frente aos olhos. 
Aproveitei para tomar um pouco de sol no horário indicado pelos profissionais de saúde, antes das 10. A questão é que o parque pra mim é um divertimento à parte. Meus olhos fogem do texto e ficam observando as pessoas, os bichos, o balanço dos galhos das árvores com o vento tímido. A impressão que eu tenho é que uma paisagem está sendo pintada e eu estou dentro dela. Uma paisagem dinâmica que incentiva a minha criatividade a imaginar qual será a história daquela moça bonita, de vestido branco curto, tatuagem na perna, cabelo curto e olhar triste.
Reparo no gramado que virou praia, onde homens e mulheres estendem cangas, toalhas ou tapetes de ioga e se expõem em roupas de banho, saudando o sol forte, com direito a bronzeador e andar de Garota de Ipanema. Acho o parque tão democrático! As aves que não sei nomear misturando seus cantos, enquanto a família perfeita abre caminho: mãe sarada, pai prestativo empurrando o carrinho do bebê e o filho mais velho, 3 anos, puxando um caminhãozinho entulhado de seixos. 
Pai e filha com camisa do fluminense seguem em direção à nascente, onde ele vai mostrar à garotinha as tartarugas e peixes. O guarda com óculos iguais ao do filme "Homens de Preto" ensinando o ponto certo de cozimento da carne na panela de pressão para a colega faxineira. O distinto senhor estrangeiro, com chapéu de caça, olha atento para todas as plantas, investigando as árvores em busca de animais silvestres. O defensor das nascentes, que fica sempre na entrada do parque com seus abaixo-assinados, mas estaciona o carro na rua, impedindo a passagem. Ah, a incongruência humana que nos salva do ridículo da arrogância desmedida!
Eu absorvo esse quadro, esses personagens, esses momentos, que se misturam a minha respiração e oxigenam meu sangue. 
O divertimento se completa quando um bebê que dá seus primeiros passos em terra firme cambaleia para longe das mãos do pai, em sinal de independência, se vira para mim, com olhos atentos de quem descobriu uma terra inexplorada e sorri com deleite, tentando conquistar minha simpatia e levando junto meu coração. Sorrio de volta, respiro fundo, junto minhas coisas e saio do parque pensando: "Hoje vai ser um dia fantástico!"

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Café tem calorias ou só aquece a alma?


A Cafeeiro fica num cantinho embaixo da escada rolante. A vista lateral é uma parede repleta de samambaias, vinda do subsolo e que continua até alcançar o topo da escada rolante  do Center Shopping de Uberlândia.  No cantinho desse cantinho, foram colocadas 3 cadeiras feitas para abraçar você. Eu explico. O design é moderno, a cadeira tem um tecido preto de bolinhas, mas o que realmente importa é a sensação de colo que ela dá quando você senta. Para um leitor amante do café é um local para se passar algumas horas, para um encontro de amigas que querem colocar o papo em dia é ótimo! Eu e minhas amigas ficamos lá, contando histórias e bebendo café.
Bom, na verdade, eu pedi o café (mocha, canelinha, machiato, expresso, em dias diferentes, é claro!), elas conversaram. É que nós fomos passar alguns dias no Spa Equilibrium em Uberlândia e café não está na dieta do local. Como uma rebelde sem causa, desobedeci a dieta e me deliciei com os cafés. E com a cadeira, não vamos esquecer o colinho da cadeira!
Quando conto que vou todos os anos, ou pelo menos tento ir, a esse mesmo spa, as pessoas me perguntam: "Mas você gosta mesmo?". E eu respondo: "É um ótimo lugar para exercitar a alma!". O corpo, obviamente, já recebe atenção sobrando em um lugar assim. Academia, pilates, alongamento, hidroginástica, caminhadas, corridas, dança, massagens, limpeza de pele, dieta. São tantas etapas no cardápio que ele (o corpo) fica se sentindo o rei do pedaço. A pele fica lisa, clara e radiante; os músculos se sobressaem, nem que seja porque doem muito com os exercícios; mas eu gosto mesmo é de malhar a alma.
As pessoas se igualam em um lugar assim. Não há profissões, especialistas, fama ou mesmo fortunas para distingui-las. Estão todos preocupados em perder peso, manter a saúde (algumas vezes bem abalada pela condição física), aprender a se alimentar. E aí começa a troca de experiências. A tortura em grupo torna todos solidários - uma dieta de 600 calorias por dia é tortura em grupo né, gente? Trocam-se receitas à mesa para aliviar a fome. Alguém revela truques para deixar o alface tão saboroso que não vamos nem lembrar que a picanha existe!
O humor predomina, mesmo com alguns desanimados que estão xingando o momento em que se renderam à idéia de ir para o spa sofrer. A gente conhece gente, real, com problemas, com histórias, com ensinos. Conheci uma senhora de 64 anos, 150 kg, diabética e que perdeu há pouco tempo seu marido, com quem foi casada por 40 anos. Seus olhos se enchiam de lágrimas ao falar do seu amor e da falta que ele lhe faz, os meus também. Essa mulher estava lutando para emagrecer o suficiente para se submeter a uma cirurgia que pode até lhe custar a vida, sem o apoio do homem que foi seu companheiro durante toda a vida, e ainda recebeu a notícia da morte de familiares quando estávamos lá. A força que ela demonstrava, apesar do abatimento mais que natural, é uma lição, um ensinamento que me foi dado por estar lá, não posso esquecer ou diminuir o seu valor, preciso preservar essa memória.
São pessoas tímidas, por vezes envergonhadas com o excesso de peso - causado ou não por problemas de saúde -, procurando melhorar suas vidas, mudar seus hábitos, vencer seus vícios, simplesmente fazer diferente. Tudo isso pra mim é aprendizado.  Mesmo os mais magros que, como eu (vamos esclarecer, rsrs), não estão com sobrepeso, procuram hábitos mais saudáveis, formas de driblar o colesterol alto ou a gastrite insistente.
Mesmo com a alteração de humores causada pela quase inanição, a gente ri muito com as histórias sobre spas. Como antigamente tudo era controlado, bagagens revistadas, havia até patrulhamento armado nos muros para evitar contrabando de comida (brincadeirinha!). Agora é tudo baseado na consciência de cada um. Assina-se um termo de responsabilidade para eximir o spa de qualquer culpa pelos seus deslizes. Foi o que eu fiz para ir tomar café sem culpa na minha cadeira-colo no Cafeeiro. Também fui ao cinema, com direito a coca-cola zero e pipoca mini dividida com outra transgressora. 
Sai do spa, depois de 5 dias, com 400 gramas a menos, uma nova amiga de Brasília, uma mala cheia de roupa suja e algumas lições que vou guardar com carinho até a próxima vez!

sábado, 5 de novembro de 2011

A vida é bela

Quem acha que a vida é bela levanta a mão! Eu tenho certeza. A minha anda tão boa, mas tão boa, que me pego olhando por sobre o ombro para ver se há alguma nuvem escura me seguindo, algum prelúdio de catástrofe. Até agora não vi nada, nem quero ver!

As paletras do ciclo sobre o Elogio à Preguiça tiveram um grande efeito em mim. Eu ando curtindo muito as pequenas coisas do dia a dia. Na quinta passada, fui ao salão domar meu cabelo rebelde e resolvi almoçar no restaurante em frente. Nada de especial na comida, era um tipo PF, preço baixo, mas estava de bom tamanho para um dia cheio de tarefas antes de embarcar nas minhas microférias.

Para variar, eu levei um livro - sempre tenho um ou alguns comigo (no carro, na bolsa) para ler no salão, no café, onde eu estiver enfim! Levei o livro para o restaurante porque ele estava muito bom, não conseguia parar de ler. Um exemplar pequeno do Luís Fernando Veríssimo, autor que eu considero um comediante incrível. Para mim ele é um stand up por escrito. Começo a ler e rio sozinha, a comicidade das histórias é muito visual, fico imaginando os fatos narrados e não consigo me controlar. 

Estava tão absorta na leitura que demorei a perceber uma mulher chamando minha atenção: "Moça, moça!" Olhei em volta procurando a voz e vendo se era comigo (acho engraçado quando me chamam de moça - não que eu me sinta velha, só antiga, rsrs). Olhei em frente e ela me perguntou: "O livro está bom? Você parece estar se divertindo!"

Eu devia estar fazendo caretas engraçadas, porque ela notou logo. Vai ver que é o sorriso, a boca emenda de uma orelha a outra e não tem jeito! Mas estava mesmo divertida a leitura e foi o que eu expliquei a ela. Ainda trocamos umas idéias sobre o teor do livro, se eu gostava de ler e o gosto do feijão do PF. Até o garçom se manifestou - não sobre o feijão, sobre o assunto do livro - balançando a cabeça e perguntando qual era o autor.

Para coroar todo aquele divertimento, surge um vendedor de morangos, oferecendo não uma, mas cinco caixinhas por 10 reais. Eu não tinha levado dinheiro, só o de plástico, não pude comprar. Não sou fã de morangos, mas a criatividade dele ao vender me cativou. Ele fez uma paródia da música "Eu juro", da dupla Leandro e Leonardo, transformando tudo em um apelo emocionante para que as pessoas comprassem seu produto. Achei legal! Queria ter o dinheiro à mão para fazer jus ao talento do vendedor, que além de tudo era bem humorado e não se deixava abater com caras feias ou recusas.

Hoje estou passeando fora de Brasília com uma amiga querida. Mas isso é papo para outro texto. Ah, o nome do livro? "As mentiras que os homens contam".

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Túnel do Tempo

Ontem à noite eu voltei no tempo e me vi com 14 anos novamente. Não fisicamente, o que é um alívio, porque nessa idade eu era uma garota ossuda com uma cabeleira rebelde e com um corte de gosto duvidoso. Definitivamente, um tempo de muita luta para se ajustar ao status de adolescente, mas ainda assim a melhor época que eu já vivi até hoje.
Com a milagrosa tecnologia do Facebook, conseguimos encontrar e reunir amigos que se teletransportaram para um período da vida há 30 anos. Foi mágico!

Um amigo desse período veio de Londres e se tornou a razão de toda a busca para juntar essas pessoas que hoje têm caminhos distintos, por vezes,  distantes, mas que se reencontraram e se identificaram com o mesmo carinho e sentimento de amizade de quando se viram pela primeira vez. Pensem em um abraço de amigo, guardado por 20, 25, 30 anos. A força do sentimento que está ali, a emoção de se perceber alguém na história de outro alguém, as memórias que retornam e batem no seu ombro, dizendo: "Lembra disso?"

Esse grupo em especial tem uma carga de memórias fantástica! São anos de convivência no período que a gente pode considerar mais produtivo na vida de alguém: a adolescência. Encontros diários na escola ou  semanais na igreja, grupo jovem que buscava a companhia uns dos outros para definir seus papéis no mundo. O grupo estava unido em todas as frentes: estudo, teatro, música, esportes, viagens - quem deles pode esquecer o Acampamento Maranata, com quartos coletivos, riacho com balanço de pneu velho, fila para o rango, serenatas e aprontações mil!! Mágico!

Outro dia vi na televisão uma propaganda de um carro fantástico. O homem que estava dirigindo o veículo (não me perguntem a marca, mal sei o meu nome!) tinha por volta de 50 anos, mas ao chegar ao seu destino, um lugar paradisíaco que somente aquele veículo forte conseguia alcançar, ele lavava o rosto no riacho e remoçava uns 30 anos. Acho interessante essa proposta de se sentir "eternamente jovem", mas a verdade é que é muito mais interessante se sentir "vivo e bem" com a idade que se tem.


 Ontem, entrando no túnel do tempo (um seriado muito bom do século passado!), percebi que não queria ser de novo uma adolescente ossuda e em luta constante com os cabelos rebeldes, queria apenas colher os frutos das amizades incríveis que plantei naquele período, acessar as memórias que são tão acalentadoras e fortalecem na gente a fé de que tocamos e fomos tocados, marcamos e fomos marcados, e que mesmo hoje, 30 anos depois, eu posso te chamar e você virá.