Eu não sei muita coisa sobre o amor. A julgar pela minha carreira emocional, as pessoas poderiam dizer que o meu currículo não é dos melhores. Um casamento fracassado, um relacionamento longo idem, alguns namoros que... ponto. Quando vi o cartaz da peça com texto da Martha Medeiros, "Duas ou três coisas que sei sobre o amor", achei que poderia fazer um curso intensivo nas duas horas do espetáculo.
Combinei com uma amiga querida de chegarmos cedo ao Iguatemi para saborear um mocha e o famoso croissant do Café da Livraria Cultura. Bom, famoso para nós duas, que já decidimos ser o melhor croissant de Brasília. A noite foi ótima. Café, croissant, teatro com atores incríveis, muitos risos e algumas reflexões, só faltava encontrar minha alma gêmea por lá, mas acho que ele nasceu em 1885 e já se foi! Fica para a próxima!
Não tomem isso como incredulidade ou desânimo, mas acho que a maturidade faz dessas coisas, a gente vai descascando as camadas da vida (é gente, a vida é uma cebola, temos que ser realistas) e isso ajuda a descartar ilusões, aprender com os erros e dar importância ao que realmente merece. Não sei se o aprendizado foi grande, mas com certeza foi válido. Recomendo completamente a peça, com o Murilo Grossi, ótimo ator, e os demais de quem não lembro o nome, mas a culpa é dessa minha mente hiperativa que tem muito pra guardar e pouco espaço. Eles todos são fantásticos, vale muito a pena assisti-los! E não esqueçam do croissant!
E para fechar este texto, preciso dividir com vocês um dos muitos textos maravilhosos da Martha Medeiros:
A DOR QUE DÓI MAIS
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo
no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói
bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra
no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de
uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra
mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca
existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais
audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem
se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da
ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem,
mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas
sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas
sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que
ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele
continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o
cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi
na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido
frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a
entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele
continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua
sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua
lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os
dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe
cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não
saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se
ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais
bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário