domingo, 20 de novembro de 2011

Café, teatro, risos e reflexões

Eu não sei muita coisa sobre o amor. A julgar pela minha carreira emocional, as pessoas poderiam dizer que o meu currículo não é dos melhores. Um casamento fracassado, um relacionamento longo idem, alguns namoros que... ponto. Quando vi o cartaz da peça com texto da Martha Medeiros, "Duas ou três coisas que sei sobre o amor", achei que poderia fazer um curso intensivo nas duas horas do espetáculo.
Combinei com uma amiga querida de chegarmos cedo ao Iguatemi para saborear um mocha e o famoso croissant do Café da Livraria Cultura. Bom, famoso para nós duas, que já decidimos ser o melhor croissant de Brasília. A noite foi ótima. Café, croissant, teatro com atores incríveis, muitos risos e algumas reflexões, só faltava encontrar minha alma gêmea por lá, mas acho que ele nasceu em 1885 e já se foi! Fica para a próxima!
Não tomem isso como incredulidade ou desânimo, mas acho que a maturidade faz dessas coisas, a gente vai descascando as camadas da vida (é gente, a vida é uma cebola, temos que ser realistas) e isso ajuda a descartar ilusões, aprender com os erros e dar importância ao que realmente merece. Não sei se o aprendizado foi grande, mas com certeza foi válido. Recomendo completamente a peça, com o Murilo Grossi, ótimo ator, e os demais de quem não lembro o nome, mas a culpa é dessa minha mente hiperativa que tem muito pra guardar e pouco espaço. Eles todos são fantásticos, vale muito a pena assisti-los! E não esqueçam do croissant!
E para fechar este texto, preciso dividir com vocês um dos muitos textos maravilhosos da Martha Medeiros:

A DOR QUE DÓI MAIS
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

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