sábado, 12 de novembro de 2011

Moldando meu dia



Recebi um e-mail de uma amiga querida com um texto do Charles Chaplin que terminava dizendo: "O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim".
Como uma boa apolínea, morning-person para os ingleses, ou simplesmente uma pessoa do dia, acordei cedo e fui moldar meu dia. Desde que voltei do spa ainda não tinha ido tomar meu café com leite no McDonalds. Então, peguei o jornal de papel, um livro e fui manter viva minha tradição. Terminado o ritual, fui procurar refúgio no Parque Olhos d'Água para minha dose diária de Luís Fernando Veríssimo. É como uma descarga de endorfina - substância que o corpo libera durante o exercício físico - para mim. O riso brota, as imagens vão passando em frente aos olhos. 
Aproveitei para tomar um pouco de sol no horário indicado pelos profissionais de saúde, antes das 10. A questão é que o parque pra mim é um divertimento à parte. Meus olhos fogem do texto e ficam observando as pessoas, os bichos, o balanço dos galhos das árvores com o vento tímido. A impressão que eu tenho é que uma paisagem está sendo pintada e eu estou dentro dela. Uma paisagem dinâmica que incentiva a minha criatividade a imaginar qual será a história daquela moça bonita, de vestido branco curto, tatuagem na perna, cabelo curto e olhar triste.
Reparo no gramado que virou praia, onde homens e mulheres estendem cangas, toalhas ou tapetes de ioga e se expõem em roupas de banho, saudando o sol forte, com direito a bronzeador e andar de Garota de Ipanema. Acho o parque tão democrático! As aves que não sei nomear misturando seus cantos, enquanto a família perfeita abre caminho: mãe sarada, pai prestativo empurrando o carrinho do bebê e o filho mais velho, 3 anos, puxando um caminhãozinho entulhado de seixos. 
Pai e filha com camisa do fluminense seguem em direção à nascente, onde ele vai mostrar à garotinha as tartarugas e peixes. O guarda com óculos iguais ao do filme "Homens de Preto" ensinando o ponto certo de cozimento da carne na panela de pressão para a colega faxineira. O distinto senhor estrangeiro, com chapéu de caça, olha atento para todas as plantas, investigando as árvores em busca de animais silvestres. O defensor das nascentes, que fica sempre na entrada do parque com seus abaixo-assinados, mas estaciona o carro na rua, impedindo a passagem. Ah, a incongruência humana que nos salva do ridículo da arrogância desmedida!
Eu absorvo esse quadro, esses personagens, esses momentos, que se misturam a minha respiração e oxigenam meu sangue. 
O divertimento se completa quando um bebê que dá seus primeiros passos em terra firme cambaleia para longe das mãos do pai, em sinal de independência, se vira para mim, com olhos atentos de quem descobriu uma terra inexplorada e sorri com deleite, tentando conquistar minha simpatia e levando junto meu coração. Sorrio de volta, respiro fundo, junto minhas coisas e saio do parque pensando: "Hoje vai ser um dia fantástico!"

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