Recebi um e-mail de
uma amiga querida com um texto do Charles Chaplin que terminava dizendo:
"O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui
estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim".
Como uma boa
apolínea, morning-person para os ingleses, ou simplesmente uma pessoa do dia,
acordei cedo e fui moldar meu dia. Desde que voltei do spa ainda não tinha ido
tomar meu café com leite no McDonalds. Então, peguei o jornal de papel, um
livro e fui manter viva minha tradição. Terminado o ritual, fui procurar
refúgio no Parque Olhos d'Água para minha dose diária de Luís Fernando
Veríssimo. É como uma descarga de endorfina - substância que o corpo libera durante
o exercício físico - para mim. O riso brota, as imagens vão passando em frente
aos olhos.
Aproveitei para
tomar um pouco de sol no horário indicado pelos profissionais de saúde, antes
das 10. A questão é que o parque pra mim é um divertimento à parte. Meus olhos
fogem do texto e ficam observando as pessoas, os bichos, o balanço dos galhos
das árvores com o vento tímido. A impressão que eu tenho é que uma paisagem
está sendo pintada e eu estou dentro dela. Uma paisagem dinâmica que incentiva
a minha criatividade a imaginar qual será a história daquela moça bonita, de
vestido branco curto, tatuagem na perna, cabelo curto e olhar triste.
Reparo no gramado
que virou praia, onde homens e mulheres estendem cangas, toalhas ou tapetes de
ioga e se expõem em roupas de banho, saudando o sol forte, com direito a
bronzeador e andar de Garota de Ipanema. Acho o parque tão democrático! As aves
que não sei nomear misturando seus cantos, enquanto a família perfeita abre
caminho: mãe sarada, pai prestativo empurrando o carrinho do bebê e o filho
mais velho, 3 anos, puxando um caminhãozinho entulhado de seixos.
Pai e filha com
camisa do fluminense seguem em direção à nascente, onde ele vai mostrar à
garotinha as tartarugas e peixes. O guarda com óculos iguais ao do filme
"Homens de Preto" ensinando o ponto certo de cozimento da carne na
panela de pressão para a colega faxineira. O distinto senhor estrangeiro, com
chapéu de caça, olha atento para todas as plantas, investigando as árvores em
busca de animais silvestres. O defensor das nascentes, que fica sempre na entrada
do parque com seus abaixo-assinados, mas estaciona o carro na rua, impedindo a
passagem. Ah, a incongruência humana que nos salva do ridículo da arrogância
desmedida!
Eu absorvo esse
quadro, esses personagens, esses momentos, que se misturam a minha respiração e
oxigenam meu sangue.
O divertimento se
completa quando um bebê que dá seus primeiros passos em terra firme cambaleia para longe
das mãos do pai, em sinal de independência, se vira para mim, com olhos atentos de quem descobriu
uma terra inexplorada e sorri com deleite, tentando conquistar minha simpatia e
levando junto meu coração. Sorrio de volta, respiro fundo, junto minhas coisas
e saio do parque pensando: "Hoje vai ser um dia fantástico!"
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