Ela sabia por experiência própria que cada sentimento tem um colorido diferente. Colorido que nasce no círculo mais restrito do coração, pintado pelas mãos habilidosas da alma, com cores fornecidas pelo estado de espírito, pelas circunstâncias, pela química, pela carência, pelo excesso. Tantos fatores que se somam para matizar o sentimento! É como a assinatura de uma pessoa, ou sua digital, não existem duas iguais!
Mas ela também sabia que quando se quer muito uma coisa, o sentimento cresce, toma conta, faz tudo para se sobressair. E o dono do sentimento inventa maneiras de satisfazê-lo. De chegar até o outro e tocá-lo, tentando despertar uma resposta que traga brilho e leveza de espírito.
Decidiu confiar naquele ilustre desconhecido de fala gostosa, quase degustável, que segredava ao seu ouvido um mundo inusitado de sensações, enterrado pelas desconfianças que a vida ensina.
Ele era realmente tentador. Sua presença enchia o lugar onde estavam. Ela se sentiu boiando num mar morno e cheio de ondas que despertavam alegres impressões. Desconfiada por natureza, lutou contra a razão, jogou fora a sensatez e se deixou levar pelas cores vibrantes que se avizinhavam até preencher um espaço considerável. Assustou-se, mas não quis voltar atrás.
Quando o moço bonito se distanciou fisicamente, mas atou um fio invisível que a prendia a suas mensagens, telefonemas e promessas vazias, ela sentiu descair o brilho, descorar o tom, diminuindo, diminuindo até só restar um tom cinza pálido e sem graça. Quando ele disse: "não estressa", a neblina chegou na alma. Ela parou, pensou, e chegou à conclusão que solidão a dois é muito pior que estar só. Tirou o sentimento do coração, cinzento e esfumaçado, e enterrou fundo no cemitério das desilusões, depois fechou a porta e foi tomar café.
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