As tragédias deveriam ser acontecimentos esparsos que nos alcançam de tempos em tempos, cujo impacto - seja pela intensidade do fato, seja pela sua magnitude - nos abala de tão forma que nada mais será o mesmo depois delas. Alguém mudou a lei do espaçamento das tragédias e elas estão acontecendo como avalanches.
O desabamento dos três edifícios no Rio de Janeiro tem escurecido os últimos dias. A fragilidade da vida nos afronta, nos fere. A humanidade que busca com sofreguidão a longevidade recebe um soco na boca do estômago com notícias como as dos desabamentos da região serrana, as inundações nos estados do sudeste, terremotos e tsunamis mundo afora.
Acontecimentos imprevisíveis (ou não) açoitam nossa aparente segurança e controle sobre os nossos dias de vida. Essas perdas humanas realçam nossa incapacidade de proteger a vida (a nossa, a dos nossos queridos, a de qualquer um). E como se não bastasse o fato de não termos controle algum sobre as forças da natureza, e sermos extremamente limitados para vigiar as estruturas físicas que nos cercam, ainda há no ser humano uma capacidade de ferir o outro, de destruir seu meio ambiente, de encontrar formas de implodir a sociedade em que vive.
A intolerância para com o outro cresce em nós como uma erva daninha. Nós somos mais inteligentes, mais interessantes, mais bonitos, perfeitos, corretos... os outros, ah os outros, temos tanto a ensinar aos outros, vemos defeitos mil e podemos sempre apontar suas imperfeições, pois há em nós uma extrema facilidade de transformar a impaciência em violência e a irritação em ira mortal.
A tragédia traz a consciência da nossa pequenez. Traz também solidariedade com os que sofrem e, se abrirmos os olhos, aguçarmos os ouvidos e entendermos com o coração, ela traz ainda a comoção que nos faz refletir sobre o que realmente é importante na vida e nos ajuda a desembaraçar-nos do superficial, do aparente e do supérfluo.
A tragédia traz a consciência da nossa pequenez. Traz também solidariedade com os que sofrem e, se abrirmos os olhos, aguçarmos os ouvidos e entendermos com o coração, ela traz ainda a comoção que nos faz refletir sobre o que realmente é importante na vida e nos ajuda a desembaraçar-nos do superficial, do aparente e do supérfluo.