A Cafeeiro fica num cantinho embaixo da escada rolante. A vista lateral é uma parede repleta de samambaias, vinda do subsolo e que continua até alcançar o topo da escada rolante do Center Shopping de Uberlândia. No cantinho desse cantinho, foram colocadas 3 cadeiras feitas para abraçar você. Eu explico. O design é moderno, a cadeira tem um tecido preto de bolinhas, mas o que realmente importa é a sensação de colo que ela dá quando você senta. Para um leitor amante do café é um local para se passar algumas horas, para um encontro de amigas que querem colocar o papo em dia é ótimo! Eu e minhas amigas ficamos lá, contando histórias e bebendo café.
Bom, na verdade, eu pedi o café (mocha, canelinha, machiato, expresso, em dias diferentes, é claro!), elas conversaram. É que nós fomos passar alguns dias no Spa Equilibrium em Uberlândia e café não está na dieta do local. Como uma rebelde sem causa, desobedeci a dieta e me deliciei com os cafés. E com a cadeira, não vamos esquecer o colinho da cadeira!
Quando conto que vou todos os anos, ou pelo menos tento ir, a esse mesmo spa, as pessoas me perguntam: "Mas você gosta mesmo?". E eu respondo: "É um ótimo lugar para exercitar a alma!". O corpo, obviamente, já recebe atenção sobrando em um lugar assim. Academia, pilates, alongamento, hidroginástica, caminhadas, corridas, dança, massagens, limpeza de pele, dieta. São tantas etapas no cardápio que ele (o corpo) fica se sentindo o rei do pedaço. A pele fica lisa, clara e radiante; os músculos se sobressaem, nem que seja porque doem muito com os exercícios; mas eu gosto mesmo é de malhar a alma.
As pessoas se igualam em um lugar assim. Não há profissões, especialistas, fama ou mesmo fortunas para distingui-las. Estão todos preocupados em perder peso, manter a saúde (algumas vezes bem abalada pela condição física), aprender a se alimentar. E aí começa a troca de experiências. A tortura em grupo torna todos solidários - uma dieta de 600 calorias por dia é tortura em grupo né, gente? Trocam-se receitas à mesa para aliviar a fome. Alguém revela truques para deixar o alface tão saboroso que não vamos nem lembrar que a picanha existe!
O humor predomina, mesmo com alguns desanimados que estão xingando o momento em que se renderam à idéia de ir para o spa sofrer. A gente conhece gente, real, com problemas, com histórias, com ensinos. Conheci uma senhora de 64 anos, 150 kg, diabética e que perdeu há pouco tempo seu marido, com quem foi casada por 40 anos. Seus olhos se enchiam de lágrimas ao falar do seu amor e da falta que ele lhe faz, os meus também. Essa mulher estava lutando para emagrecer o suficiente para se submeter a uma cirurgia que pode até lhe custar a vida, sem o apoio do homem que foi seu companheiro durante toda a vida, e ainda recebeu a notícia da morte de familiares quando estávamos lá. A força que ela demonstrava, apesar do abatimento mais que natural, é uma lição, um ensinamento que me foi dado por estar lá, não posso esquecer ou diminuir o seu valor, preciso preservar essa memória.
São pessoas tímidas, por vezes envergonhadas com o excesso de peso - causado ou não por problemas de saúde -, procurando melhorar suas vidas, mudar seus hábitos, vencer seus vícios, simplesmente fazer diferente. Tudo isso pra mim é aprendizado. Mesmo os mais magros que, como eu (vamos esclarecer, rsrs), não estão com sobrepeso, procuram hábitos mais saudáveis, formas de driblar o colesterol alto ou a gastrite insistente.
Mesmo com a alteração de humores causada pela quase inanição, a gente ri muito com as histórias sobre spas. Como antigamente tudo era controlado, bagagens revistadas, havia até patrulhamento armado nos muros para evitar contrabando de comida (brincadeirinha!). Agora é tudo baseado na consciência de cada um. Assina-se um termo de responsabilidade para eximir o spa de qualquer culpa pelos seus deslizes. Foi o que eu fiz para ir tomar café sem culpa na minha cadeira-colo no Cafeeiro. Também fui ao cinema, com direito a coca-cola zero e pipoca mini dividida com outra transgressora.
Sai do spa, depois de 5 dias, com 400 gramas a menos, uma nova amiga de Brasília, uma mala cheia de roupa suja e algumas lições que vou guardar com carinho até a próxima vez!