quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Matar o preconceito ou morrer tentando



O João Vitor, meu filho, me fez uma proposta no domingo: "Mãe, vamos ser freeletics?" E eu fiquei olhando com cara de pastel pra ele, sem entender nada, como você deve estar agora também. Ele então me explicou que freeletics é um método de ginástica funcional alemão, em que você usa apenas o próprio corpo e cujos exercícios podem ser feitos em casa, no parque, sem necessidade de academia. A chave de tudo é que em 15 semanas seu corpo será transformado, modelado, definido, enfim, você fica sarado, com barriga tanquinho para os homens e abdomen definido para as mulheres.
Ele perdeu minha atenção na palavra "alemão", e eu comecei a divagar (coisa que faço muito): "Nossa, deve ser um método chato pra caramba, como tudo que é alemão". E me deu um clique: "Puxa, que fala preconceituosa!". Tudo bem que os alemães não são conhecidos pelo ótimo senso de humor, mas daí a dizer que TUDO deles é chato... A gente faz muito isso, né? Relativiza as coisas e cria frases incríveis e recheadas de preconceito: desde "mulher no volante, perigo constante", passando por "depois diz que é crente", ou ainda expressões como "trabalho de branco", "a cara da pobreza", até chegar em um "Isso não é coisa de homem!". 
Por vezes, observando o facebook encontro de tudo um pouco, até mesmo na minha página, e me envergonho. A mais recente forma de preconceito, bullyng ou similares são os aplicativos para dar "nota" a homens e mulheres. Eu poderia facilmente emitir uma opinião sobre os que se utilizam desses aplicativos com uma fala também preconceituosa: "É falta de ter-a-pia, ter a pia cheia de louça pra lavar". O ponto aqui é que todos se acham mais do que capacitados a julgar os outros em cada ínfimo detalhe.
Se veste roupa curta é periguete. Se é político é ladrão. Se é pastor quer o seu dinheiro. Se é velho é enjoado. Se é gay é pedófilo. Se é alemão é chato. Parece que temos sempre um alforje cheio de julgamentos de todos os tamanhos, cores e medidas, prontinhos para serem verbalizados. 
Estava lendo sobre o papa Francisco (esqueci o número, porque não sou católica) e como parece que ele sai à noite disfarçado, pelas ruas, para evangelizar os mendigos. Uma matéria legal, mostrando um lado tocante de uma "autoridade suprema", muito lindo mesmo, até você começar a ler os comentários e ver intolerância de todos os lados. Se eu fosse Deus já estaria cansado de tanta discussão inútil, tanta falação. Eu acho que vou mandar uma cartinha pra ele, perguntando se não dá pra adaptar o homem, fazendo um modelo novo que venha com um dispositivo na língua, acionado automaticamente e causando uma voz pastosa e ininteligivel toda vez que alguém tentar julgar o próximo ou o distante. Começou a falar bobagem sobre o outro, a língua fica pesada, os lábios entortam e as palavras não saem. Será que ele me contrata pra área de O&M do céu?
A vida passa tão rápido, cada ano parece mais curto e corrido, e o ser humano parece achar tempo sem fim para jogar pedra na Geni, no vizinho, no desconhecido que atravessa a rua, na garota bonita (que inveja!), no cara feio, no menino sujinho, no colega de trabalho, no marido, na mulher, enfim, em qualquer outro ser humano que não seja ele mesmo. Quanta perda de tempo!
Depois de todas essas divagações, eu aceitei o convite do meu filho e virei freeletic. Estou no segundo dia da primeira de 15 semanas. Meus músculos estão retesados, meu corpo dói como se tivesse apanhado, minhas pernas tremem e eu quero matar quem inventou esse método, mas vou aceitar o desafio, não só do método, mas principalmente de vencer a minha pré-disposição para o preconceito - alemão pode ser legal, pode até deixar seu corpo em forma - ou vou morrer tentando!! Se vocês não tiverem notícias minhas em 15 semanas, estão todos convidados para o velório!


Um comentário:

  1. O que eu vou dizer da minha amiga Red??? Que ela coloca em palavras o que eu quero dizer e guardo para mim??!?? Uma coisa é certa: tenho orgulho de ser sua amiga! bjs

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