Dia de aniversário tem cheiro de terra molhada. Parece que a qualquer momento uma sementinha vai brotar e trazer um raminho verde à superfície da vida. Uma nova probabilidade que desponta. Já acordei com um abraço gostoso do meu filho, me dizendo que sou a melhor mãe do mundo!! Nessa era digital, em que a tecnologia alcança a tudo e a todos, já se recebe os parabéns bem cedinho, por e-mail, whatsapp, no facebook, no twitter, a gente se sente lembrado de todas as formas e por todos. Até o Google me deu parabéns! E a TAM e o Submarino e a NET SHOES, mas o melhor de tudo são as mensagens dos amigos, parentes e do namorado, dizendo que eu sou importante para eles.
Eu me lembro bem de um fato que aconteceu quando eu tinha sete anos. Fui com minha mãe à igreja, numa tarde da semana e, no meio do caminho, já voltando para casa, começou uma chuva torrencial. As ruas se alagaram em questão de minutos e ficou impossível caminhar com segurança. A enxurrada estava muito forte e eu segurei firme a mão da minha mãe. Não havia abrigos por perto e o jeito era prosseguir rápido e tentar chegar em casa. Ao tentar pular um trecho difícil, do meio fio para o asfalto da rua, perdi minha sandália, quase fui carregada, mas minha mãe me puxou rápido e firme, e saí ilesa da aventura.
A travessia da vida é assim também. A cada ano que se acrescenta na nossa ampulheta (eu sei, eu faço uma leitura às avessas, porque não vejo a areia que se escorre e o tempo que já passou. Prefiro antes pensar que, a cada ano, abre-se a tampa da ampulheta e uma nova quantidade de areia da vida é adicionada a que já existe, mais dias, mais chances, mais vida), novos desafios vão surgindo. Em dias bons, a brisa sopra e acaricia o rosto, o sol aquece de mansinho o caminho à frente, o céu azul, pontilhado de nuvens brancas, derrama paz sobre as nossas cabeças. Por vezes é preciso enfrentar ventos fortes, maré alta, noites escuras, nevascas, tempestades e enxurradas. E sair descalço mas inteiro. Com marcas, mas entendendo que "quem elegeu a busca não pode recusar a travessia", não é, Guimarães Rosa?
E toda diferença na forma de encarar a travessia, principalmente dos dias "maus", está na mão firme que nos segura. A família, os amigos, o amor, a fé. Mãos que celebram conosco os dias de sol, céu azul e brisa fresca, mas muito mais que isso, mãos que nos sustentam nas crises, que se juntam para nos proteger, que nos aquecem, consolam, segurando firme nas enxurradas.
A todos os que são MÃOS na minha vida, obrigada por existirem na minha travessia!!