Hoje cedo cometi meu primeiro pecado capital, após uma estadia de 10 dias em um spa. Fui tomar café no McDonalds, com pão na chapa, sem um pingo de culpa. Faço isso sempre, quer dizer, fazia constantemente, e depois de um longo e tenebroso inverno, voltei hoje.
Tudo começou com o copo do McDonalds. Sabe como é, aquele copo com tampa plástica e um furinho para sorver o café. Também tem um protetor, um tipo de cinto de papelão, em volta do copo que protege a mão do calor. Mas a verdade é que sou viciada no café, quer dizer, no copo do McDonalds porque ele me lembra aqueles filmes do FBI, em que todos tomam café num copo desses e conseguem resolver todos os crimes.
Eu fico lá, sentada numa mesa com sofá de lanchonete, segurando aquele copo, bem compenetrada, sorvendo em goles pequenos o café com leite e me sentindo uma verdadeira detetive, superinteligente. Observo o lugar com calma, arquivando mentalmente as expressões faciais, as palavras soltas, as cenas do cotidiano que me rodeiam. Algumas pessoas são tão sérias de manhã que fico imaginando como chegam ao final do dia. É sempre divertido assistir o show de vida que as crianças oferecem. Elas são sempre espontâneas, encantadas com o simples, é revigorante de se ver.
Frequento o McDonalds a pelo menos 3 anos, mas apenas no café da manhã. Algumas vezes, não parece que meu dia começou, até que eu passe por lá. Em todo esse tempo, cataloguei alguns rostos que se tornaram familiares, mas há um casal que me encanta. Eles estão sempre lá, juntos, tomando café da manhã. Um senhor e uma senhora de pelo menos 60 anos. Sentam-se sempre na mesma mesa. Ela traz o jornal, ele faz o pedido no balcão e traz para a mesa. Eles tomam o café, comem o pão e, pasmem, conversam e sorriem um para o outro, todos os dias, durante os 3 anos que presencio o comportamento deles.
Algumas vezes gargalham, lembrando casos de família, ou comentam as notícias do jornal. Não falta assunto, nem bom humor. Ele tem uns olhos atentos que se fixam na sua companheira, escutando o que ela diz com muita atenção, reconhecendo com prazer a alegria de estar com essa mulher. E ela corresponde a tudo, repousando a mão na dele e concordando com algo que ele disse.
Acho os dois um fenômeno. Em pleno século XXI, em que o divórcio é comum e os homens (e até mesmo as mulheres) estão sempre procurando uma maneira de "parecer" solteiros, é insólito ver um casal junto por tanto tempo, com tal nível de intimidade e entendimento um do outro. É milagroso, na verdade. Conheço mais uma dúzia ou um pouquinho mais de casais que podem ser colocados nessa categoria, que confirmam a possibilidade de que o amor pode vencer o tédio, o cansaço, as adversidades, os defeitos e, principalmente, o tempo, que pode ser um carrasco de um relacionamento.
Não vou voltar tão cedo ao McDonalds, estou fugindo de pão na chapa (pelo menos por uns tempos, nunca diga nunca), mas sei que quando voltar, eles vão estar lá, na mesma mesa, repartindo o café, o jornal, a conversa e a vida.
Você encontrou a visão do amor companheiro, tomando pingado no MacDonalds. Ele, certamente, anda vagando por aí. E é porque ninguém estreita o olhar, num momento como um café ou uma volta na quadra, nas caminhadas matutinas, que o vício se tornou "parecer solteiro". Não o enxergamos mais, porque não enxergamos mais. Talvez bastasse um tempo num sofá de cafeteria para que o víssemos passar e lembrássemos de que sonhamos sempre em tê-lo em nossas vidas. Mas, acho que bebemos pouco café. Adorei o texto. Continue com o café.
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