Alguém me disse que eu anunciei a viagem para a Itália e depois volto com um texto de dez linhas. Daí fiquei um tempão pensando em o que escrever sobre essa peregrinação em uma terra tão bela. Lembrei de um episódio.
Eu estava na recepção do hotel em Florença, único local onde a internet pegava (male, male), olhando e-mails e o facebook, é claro. Comecei a pensar nos lugares que tinha visto e nos que queria ver. Fiquei triste por não ter entrado no Duomo de Milão (os trajes de verão não são adequados para a Catedral, segundo a segurança do local, nada de blusinhas de alça, shorts ou saias acima do joelho).
Queria entrar, olhar os vitrais, esculturas e pinturas, sentar em um dos bancos e ouvir uma missa em italiano ou latim, reconhecer talvez a oração do Pai Nosso. Mas acho que isso não é mais possível, a quantidade de turistas em visitação é tão grande, que não dá mais pra sentir o "clima" dos locai visitados.
Eu me senti a maior parte do tempo carregada pelas filas no Coliseu e no Vaticano, ou impedida pela multidão de me aproximar, como na Fontana di Trevi, onde eu tinha a doce ilusão de poder imaginar "in loco" a cena de La Dolce Vita. Você mal consegue se aproximar da fonte, toda as fotos tem um verdadeiro mar de cabeças. Mas isso não é uma reclamação, é mais uma constatação, afinal, eu faço parte desse mar de cabeças que deseja ver, tocar, capturar em fotos os locais visitados.
Bom, voltando ao hotel em Florença, escutei uma garota (talvez 18, 19 anos) conversando com o namorado no celular, em voz alta, em português. Uma conversa bem longa, como deve ser nessa idade, contando seu dia de turismo. A questão é que tudo se resumia a compras. As gravatas para ele, as bolsas de marca que ela conseguira achar por um ótimo preço. Não cito marcas por pura falta de conhecimento, sou um ser do gênero feminino anômalo, desconheço quase que por completo o que seja uma bolsa de grife, um sapato de marca, um vestido famoso. Não dou a mínima para ter roupas famosas no meu guarda-roupa, então acho que basicamente sou brega. A conversa se estendeu aos detalhes, ela contava o material de que era feita a bolsa, o formato, o tamanho, a cor.
Eu estava sentindo dores excruciantes no ouvido. Não conseguia acreditar que alguém pudesse sair do seu próprio país, atravessar um oceano,e desembarcar em um país cheio de riquezas artísticas por todos os lados - provavelmente, há alguns séculos, as crianças eram incentivadas pelos pais depois do jantar: "Mica (diminutivo de Michelangelo), querido, vá pintar seu quadro antes que chegue a hora de dormir", "Leo, meu amor, deixe essa invenção para amanhã, já está muito escuro para ficar aqui fora" - e conversar sobre compras como o grande objetivo de sua viagem.
Além de todos os tesouros que se pode visitar, carregados de história, cultura, emoção, achei fantástica a experiência de observar outras pessoas, entender como os italianos se relacionam com outros cidadãos do mundo - algumas vezes são extremamente atenciosos, de outras parecem exaustos e irritados com a atenção dos turistas sobre o seu patrimônio artístico -, o humor cínico e a emoção sempre à flor da pele. Os gestos amplos, o riso fácil, a resposta rápida. Aos amigos italianos que fiz na viagem, Grazie mile e Ciao!